Aqueduto da Quinta do Perdigão

Uma descoberta arqueológica no concelho da Lourinhã.

 

"Desde sempre a água foi indispensável para a fixação de uma comunidade; contudo, nem sempre as condições naturais se assumiram como condições necessárias e suficientes para tal. O desenvolvimento técnico permitiu que a ocupação humana de origem limitada às imediações de rios, lagos e nascentes de água doce se estendesse a áreas consideradas à partida inóspitas.

Ao longo da nossa história, foram construídos sistemas de captação, armazenamento, condução, distribuição e evacuação de águas. Vestígios arqueológicos destes sistemas construídos, alterados, abandonados e degradados testemunham várias soluções adoptadas, onde se procurou complementar défices locais e regionais através da condução de água a distâncias consideráveis.

A construção de vastos sistemas que suportaram abastecimentos estáveis e permanentes não se limitou ao preenchimento de necessidades básicas de uma população ou à melhoria das condições de determinadas actividades económicas. Estruturas notáveis podem indicar que a água se assumia como produto de luxo.

É com base nos conhecimentos desenvolvidos pela Arquitectura Romana na construção de aquaeductus (aquedutos) que fazemos uma análise, embora linear, da influência e perduração de metodologias de condução de águas livres verificada num exemplar do nosso concelho construído já num período contemporâneo.

Construído no século XVIII, com um desenvolvimento total aproximado de mil e quatrocentos metros de condução de águas livres, foi edificado um aqueduto subterrâneo com cerca de setecentos metros de desenvolvimento com paredes rectas e tectos abobadados.

Este aqueduto é dotado de acessos pedonais, câmaras de inspecção, tanques de sedimentação e tanques de armazenamento. Esta estrutura terá sido criada com o propósito de um abastecimento estável e permanente à Quinta do Perdigão, tendo a capacidade de armazenar constantemente cerca de novecentos metros cúbicos de água, abastecer um tanque de distribuição de vinte metros cúbicos, entre outros fins, usando técnicas de desnível, pressão e condução de águas por queda.

Escavado em arenitos e argilas magras, com um desnível variável entre um e sete metros em relação à cota de superfície, com cerca de um metro e setenta centímetros de altura e cerca de sessenta centímetros de largura.

Foi necessário extrair mais de mil metros cúbicos de pedra e sedimentos para criar esta obra majestosa que, posteriormente, foi revestida com alvenaria insossa ou seca (construção com pedras justapostas sem argamassa). De um traço geral, as únicas secções e/ou áreas específicas do aqueduto só não estão em seu pleno funcionamento por falta de manutenção ou por uma parca preservação.

 

Ainda é possível visitar algumas das secções que resistiram à evolução da sociedade e desenvolvimento urbano. Ainda é usado para diversos fins, embora de uma forma rudimentar e de parca manutenção. Os actuais proprietários de alguns dos terrenos onde este aqueduto se observa procuram cuidar e preservar esta magnífica obra, registando-se apenas o aterro de uma das câmaras de inspecção, aquando da construção do Campo de Futebol das Papagovas a um extremo de uma das secções, e a destruição de, pelo menos, duas câmaras de inspecção, no início de outra secção do aqueduto.

Com a publicação Contributos para uma Carta Arqueológica (Volume 1) – O Aqueduto da Quinta do Perdigão, que entretanto será divulgada pelo Centro de Estudos Históricos da Lourinhã, far-se-á um levantamento mais aprofundado de todo o complexo de condução de águas livres bem como a representação topográfica não só do aqueduto como de todos os elementos que compõem este edificado.

Este documento surge com o intuito de conservar na memória do concelho a existência deste aqueduto bem como servir como ponto de partida para um estudo deste património concebido há séculos que, claramente, mostra a preservação de conhecimentos desenvolvidos milénios antes. Este património edificado é apenas um dos inúmeros exemplos de património do concelho que merecem atenção e zelo a fim de uma contínua preservação."

in: Jornal O Alvorada, 1 de abril 2016

Centro de Estudos Históricos da Lourinhã

Secção de Espeleologia - NABUC

 

João Manuel Figueiredo

Paulo Sousa

João Paulo Subtil

Carla Tomás

Sérgio Pinheiro

José Cruz