Participação no PEL- Plano Estratégico da Lourinhã
Inserida no topo da unidade Calcários do Vimeiro (pertencente às Camadas de Alcobaça) a qual aflora, desde Casais dos Netos, a Norte, até próximo de Casais do Arneiro, a Sul. Segundo o corte de F. P. Teixeira Silva, 1989, a unidade é constituída, da parte média-baixa para o topo, por calcários por vezes fortemente bioclásticos (algas calcárias), em geral com oncólitos e com grande abundância de macrorrestos, evoluindo o conjunto para calcários mais compactos e mais pobres em fauna. A sedimentação desta unidade, com uma espessura de cerca de 160 m, deu-se num ambiente francamente marinho, de pouca profundidade e de fraca energia, ainda que bem iluminado e oxigenado. Da base para o topo, foram notadas oscilações nas características do ambiente marinho (fenómenos de regressão e transgressão da água do mar). Esta unidade está sobre um provável anticlinal salífero (MANUPPELLA et al., 1999). A idade da formação Calcários do Vimeiro é atribuída ao Kimeridgiano Superior devido ao estudo micrográfico do corte, realizado sob orientação de M. M. Ramalho, que identificou a presença de AlveoseptajaccardiSchrodt, Campbelliellastriata (Carozzi) e Everticyclamminavirguliana Koechlin (MANUPPELLA et al., 1999).
O afloramento, constituído pelos Calcários do Vimeiro, rodeia um vale tifónico, onde se situa a Maceira, originado pela extrusão das Margas de Dagorda, datadas do Hetangiano, injectada na falha da Lourinhã. Os vales tifónicos, segundo a definição do eminente geólogo Paul Chauffat, são limitados por séries de falhas e têm o fundo levantado através dos terrenos mais recentes, e, em contacto com estes, em todo o seu perímetro. Estas áreas revestem-se geralmente de grande importância pelas nascentes hidrominerais que nelas brotam e pela presença de certos minerais, como gesso e sal-gema, entre outros factores (P. G. ANACLETO, 1965).
Neste caso particular, o gesso aflora no núcleo do diapiro da Maceira /Vimeiro (G. C. FRANÇA et al., 1961) sem, no entanto, ser objecto de qualquer exploração. Existe exploração, sim, de águas minerais pelas Termas do Vimeiro, situadas no vale do rio Alcabrichel, efectuando a captação de duas nascentes, junto ao extremo SE do afloramento Hetangiano designadas por Rainha Santa Isabel e Fonte dos Frades. As águas da primeira emergem dos calcários enquanto as da segunda nascente chegam à superfície pela falha de contacto entre as margas e os calcários. Para além da falha da Lourinhã e do contacto diapírico observa-se, ainda, na carta um outro conjunto de falhas transversais à direcção da primeira. São os resultados de processos tectónicos e das fortes tensões a eles associadas, provocando também uma completa alteração na posição original dos estratos. Assim, ao longo do afloramento, podem medir-se direcções e pendores muito diversos.
O cabeço onde está instalada a Cova do Texugo possui estratos que inclinam cerca de 15o para NW. A sua vertente oeste é muito abrupta e o desnível de cotas da superfície do terreno, desde o seu ponto mais alto até ao leito dos cursos de água que ladeiam o cabeço é apreciável, pois, vai desde perto de 65 m até cerca de 35 m a este e 45 m a oeste, respectivamente. O fundo do vale associado à vertente oeste assemelha-se a um pequeno Canyon que se terá formado pela acção do rio.
O complexo das Grutas do Cabeço da Pedra do Sino tem uma extensão total de, aproximadamente, 900 m de galerias de média dificuldade de progressão, seguindo as orientações da fracturação (diaclases) do extractocalcário em que se insere. Estas orientações, quase perpendiculares, promovem um rendilhado de galerias labirínticas proporcionando uma exploração complexa, apenas conseguida pelo suporte topográfico.
O sistema possui, na totalidade, onze entradas que se subdividem em três zonas do cabeço em estudo. Na zona norte do Cabeço, encontra-se, a oeste, a Cova do Urso, gruta que atravessa o Cabeço de oeste para este, com galerias em forma oval/vertical com máxima altura de 8 m, medianamente concrecionada, aumentando para o seu interior e apresentando, com frequência, estalactites e estalagmites. Ao nível do solo, os enchimentos de argila são frequentes na parte final da gruta. Esta gruta tem apenas ligação com a Cova da Chifruda, por intermédio de uma galeria muito estreita (0,20 m) e alta (4 m).
A Cova da Chifruda (zona norte) possui uma entrada semi-vertical e, no seu interior, um poço de 4 m que garante o acesso para a mesma cota da Cova do Urso. No seu interior, verifica-se a existência de galerias mestres (segundo as diaclases) e salas muito baixas, possuindo ainda inúmeros depósitos de argila e zonas bastante concrecionadas. Esta gruta, por sua vez, não apresenta qualquer ligação suficientemente ampla que permita a passagem para o restante complexo (Cova do Texugo e Pedra do Sino), apesar da proximidade (38 m) e da idêntica disposição de galerias. Na zona central, e viradas para oeste, estão presentes a Cova da Presa e a Lapa do Meio. Estas duas grutas, de pequena dimensão, representam antigas entradas para todo o sistema, encontrando-se, neste momento, obstruídas com argila consolidada de difícil desobstrução. Ainda assim, observam-se as galerias mestres orientadas para o interior do cabeço. Estas pequenas entradas apresentam-se com um enchimento de argila muito elevado ao nível do solo. Também na zona central, mas a este, existe a Lapa da Pulga, uma das quatro entradas, a este, para o sistema principal de galerias. A Lapa da Pulga possui, em toda a sua extensão e ao nível do solo, grandes quantidades de argila. A ligação para a Cova do Texugo é conseguida por intermédio de uma galeria com um desnível de 4 m, mas muito estreita (0,30 m).
Na zona sul do cabeço, encontra-se a parte mais importante (conhecida) deste sistema, com uma entrada a Oeste (Cova do Texugo), quatro a Este (Pedra do Sino, Lapa da Luz, Cova do Mongo e Lapa da Pinha) e uma entrada vertical no topo do cabeço (Pedra do Sino II). Nesta zona, é iminente o elevado número de galerias mestres (altura de 6 m e de configuração diaclase/vertical), que se interceptam sucessivamente umas com as outras, por intermédio de galerias de inferior secção, mais estreitas e de menor altura, verificando-se a existência de abatimentos nessas mesmas intercepções. Nestas galerias, é raro observar-se concrecionamentos do calcário, apresentando-se uniforme e com marcas de erosão física. Visualizando agora a secção destas, pode-se constatar que existem dois níveis distintos de formação; no topo, encontram-se com frequência mais largas, variando de 3 m a 1 m, com uma variação brusca para o resto da galeria, que praticamente mantem-se constante (aprx. 0,50 m), afunilando um pouco para a base. Este tipo se secção está directamente ligado com a velocidade de formação das galerias, muito lento no início, aumentando para a base. A existência de zonas com preenchimento de argilas também é visível no sistema, que advém da subida e descida do nível freático, ou seja, este variou a sua cota ao longo do tempo, permanecendo longos períodos no início, decrescendo para o final (Topografia em Anexo 1).
Durante os trabalhos de desobstrução realizados numa das lapas do complexo cársico de Maceira/Ribamar, foram postos a descoberto dois dentes caninos de javali que apresentam afeiçoamento e perfurações. Trata-se de peças destinadas a adorno, possivelmente com funções de carácter mágico-simbólico. Na proximidade destes artefactos surgiram os fragmentos de dois ossos humanos, o que sugere um contexto funerário. Apesar de próximos e em área restrita, os achados surgiram desconexos e sem demais espólio que possibilite uma leitura cronológica concreta.
O desimpedimento da lapa designada por Cova da Presa, a partir do exterior, foi uma das tarefas decorrentes de um projecto global de estudo do complexo de galerias de origem cársica existente nos afloramentos calcários jurássicos de Maceira (Lourinhã) /Ribamar (Torres Vedras), zona que se divide entre os distritos de Leiria e de Lisboa (REGALA, R. & LUÍS, R. 2002; REGALA, F. & GOMES, E. 2002). O conjunto norte é constituído pela Cova do Urso e Cova da Chifruda, que estão interligadas. Não se conhece actualmente qualquer conduta de ligação entre os conjuntos sul e norte, apesar de se encontrarem muito próximos (cerca de 38m). Esta situação confere particular relevância à zona intermédia, ainda que aí sejam apenas conhecidas pequenas cavidades, significativamente preenchidas pelos sedimentos. Foi por este motivo que se investiu com particular contumácia na desobstrução da Cova da Presa, a qual se encontra posicionada na interface dos dois principais subsistemas. Assim, os trabalhos foram promovidos na expectativa de serem alcançadas galerias inexploradas que poderiam vir a estabelecer a ligação de todo o complexo. A Cova da Presa e a Cova do Meio são cavidades adjacentes que distam cerca de seis metros entre si.
Têm desenvolvimento paralelo este-oeste, desembocando para ocidente. As duas entradas estariam anteriormente ligadas conformando um abrigo que abateu em período indeterminado.
Reconhecendo efectivamente o impacto não só turístico como também económico, sendo a base do mesmo este fantástico exemplar de cavidades do concelho, verificando-se não só o uso deste complexo cavernícola para fins recreativos por parte dos cidadãos no geral, como por empresas que fornecem condições para a população todas as condições de práticas de desportos radicais, nomeadamente a prática do espeleo-turismo, como também é alvo de “jogos” on-line (Geocaching), estando referenciada a “Gruta Cova do Texugo” vimos deste modo alertar não só algumas problemáticas resultantes do contínuo impacto do seu uso fruto como também indicar algumas das soluções viáveis para a requalificação do complexo bem como da área envolvente que claramente merece o mesmo respeito e atenção.
Como resultado de práticas erradas no passado, que não são compatíveis com aquilo que hoje é considerado como conduta de espeleólogo, como também da visita de populares sem formação cívica relacionada com a boa preservação cavernícola, regista-se a existência de escrituras e gravações de registo como prova de presença na cavidade, sendo usadas tintas e sprays de grafiti bem como a deposição de pequenos lixos (garrafas plásticas, pilhas, sacos de plástico, etc…).
Como acima referido “Estas orientações, quase perpendiculares, promovem um rendilhado de galerias labirínticas proporcionando uma exploração complexa, apenas conseguida pelo suporte topográfico”, problemática esta que obrigou a várias entidades promocionais de eventos de recreio e passeios espeleo-turísticos, usando tintas e similares como forma/solução para sinalizar sentidos de saídas e/ou rotas sendo mais notórios estes indicadores de direcção em grande parte dos cruzamentos de diaclases em diversos tons (verdes e vermelhos em predominância), o que claramente indica que foi feito por, pelo menos, duas entidades diferentes.
Os acessos principais são de igual forma identificados com tintas e escrituras mais uma vez não só erradamente feitas como também a contínua aplicação de uma metodologia não reconhecida pela conduta e boas práticas da espeleologia.
Registando o acima referido, é de nossa obrigação moral, bem como boa prática dos estatutos pelo qual nos regemos, alertar para este facto como também tomar esta oportunidade de sugerir um conjunto de soluções tendo como fim, e unicamente, o intuito de minimizar os impactos causados pelas visitas constantes a este complexo, criando em simultâneo condições para requalificar a zona, pois claramente a Maceira, como todo o concelho, beneficia com a prática de requalificação da zona.
Deste modo, lançamos o desfio de se realizar:
- Limpeza dos lixos ainda existentes no interior da cavidade (a grande maioria já foi retirada por nós na última avaliação do estado de conservação da cavidade);
- Eliminação, mediante o possível, causando o menor impacto possível nas cavidades, das tintas nas paredes das galerias e acessos do complexo;
- Colocação de indicadores das diversas saídas no interior da cavidade, usando aço inox 316 (sendo este o aço mais resistente aos elementos) e eliminando os inúmeros indicadores “grafitados” no interior da cavidade (sendo alguns susceptíveis de erro);
- Limpeza e criação de acessos mais cómodos a todas as entradas do complexo com a construção de um trilho circundante ao relevo cársico com o menor impacto possível na fauna e flora local;
- Criação de um corrimão de segurança numa passagem no interior;
- Colocação de placas identificativas em todos os acessos ao interior do complexo cársico estando presente no mesmo:
- Identificação da cavidade;
- Topografia da cavidade com indicador “você está aqui”;
- Números de emergência;
- Condutas e boas práticas cavernícolas;
- Descrição da cavidade preservando os direitos de autor (AESDA);
- Descrição dos trabalhos arqueológicos nas cavidades em que se registou a existência de espólio bem como a indicação dos detentores do espólio;
Com este conjunto de pequenos trabalhos realizados, consideramos que será praticada uma requalificação da área e, por consequência, projectar a zona para um maior impacto turístico somado a um melhor grupo de condições para a venda do produto “espeleo-turismo” já praticado por empresas da zona, nomeadamente a empresa “Tudo Aventura”. Contudo temos a noção de que esta intervenção irá carecer de um acompanhamento (no mínimo anual), como tal o compromisso não se resume a um acto isolado.
João Figueiredo
Centro de Estudos Históricos da Lourinhã
Núcleo de amigos dos Buracos das Cesaredas
webgrafia:
- https://www.aesda.pt/documentos/pdf/trogle4.pdf
- https://www.geocaching.com/geocache/GC209F4_cova-do-texugo-torres-vedras
- https://mlourinha.wordpress.com/2013/08/27/recuperacao-de-trilhos/
- https://www.distritosdeportugal.com/lisboa/maceira/desenvolvimento.htm
- https://vivernocampo.blogspot.pt/p/lista-de-grutas-e-algares-visitados.html
- https://nabuc.webnode.pt
- https://plus.google.com/photos/113846798560906667545/albums/5517201900320055681
- https://arqueologia.patrimoniocultural.pt/?sid=sitios.resultados&subsid=3057585
- Regala, Frederico Tátá (2007) - Os dentes de javali afeiçoados da Cova da Presa, em Ribamar Lourinhã. In Trogle.
- https://www.aesda.pt/documentos/pdf/trogle5.pdf