Monardo dos Francos

No seguimento da aprovação em Assembleia Municipal da aquisição do terreno adjacente ao cemitério da Igreja S. Lourenço dos Francos para a construção de um crematório, cabe a nós, Centro de Estudos Históricos da Lourinhã, vir por este meio alertar vossas excelências que tal construção deve ter um acompanhamento constante desde a fase inicial do projeto por um Arqueólogo, relembrando vossas excelências dos seguintes factos:

A Igreja S. Lourenço dos Francos tem um registo de construções e remodelações sendo o primeiro registo coma datação de 890 d.C.[1]

Contudo, a história das ocupações destes terrenos são bem mais antigas estando registado uma panóplia de evidências de ocupação humana datada do período romano, pelo que elencamos algumas referências bibliográficas:

  • "Desde a existência de uma fonte de notável arquitetura, à canalização de águas provenientes de nascente junto ao rio, de artificio Romano, ao achado de restos de alicerces de casas, ladrilhos, telhas, telhões e pedras lavradas, tudo é referido"[2].
 
  • “…construíram mais povoados (gentes de Cartago), entre os quais um nas proximidades de onde está a Egreja S. Lourenço ao Norte desta deram o nome de MONARDO cuja etimologia deriva da palavra Monsarduns, monte de difícil penetração. Esta versão confirma-se (…) quando o antigo proprietário da Quinta do Perdigão Francisco Romeiro da Fonseca, mandou arrotear muito fundo a propriedade que adquirira junto de sua Quinta e em frente da Egreja referida, os quais objetos constavam, alicerces, telhas, etc.”[6]
 
  • “Esta cidade de Monardo estaria edificada na encosta de uma elevação que fica fronteira a Igreja de São Lourenço, que se chamava antigamente “Torre”, e hoje é conhecida pela “Barrada”.[7]
 
  • “O achado de pedaços de tijoleiras e cerâmicas antigas a quando da abertura de um poço na Quinta da Junceira, próximo de S. Lourenço…”[2]
 
  • “… quase no sopé do monte, perto do rio, nasce um olho de água permanente. Pesquisada esta nascente verificou-se que a corrente vinha por um cano feito com artificio Romano.”[8]
 
  • “… nas proximidades da Joaria, apareceram de mistura com a terra, algumas tijoleiras, pedaços de utensílios domésticos, duas ânforas de barro muito antigo, uns pedaços de ferros velhos e duas argolas, alem de uma pedra curiosa em forma de machado.”[9] (ultima posse conhecida – Casal da Seixosa – Moita dos Ferreiros)

 

É de conhecimento geral que até ao Séc. XIV o Rio Grande era navegável, desempenhando papel significativo no desenvolvimento económico da Lourinhã que esta via de comunicação terá sido usada por árabes, cartagineses e romanos a quando das suas ocupações.

Destaca-se ainda que a existência de duas pedras talhadas nos extremos posteriores da Igreja (anexo 1) onde são referidas a existência de duas entidades de enorme importância na "Villa" Romana que terá existido nas imediações da Igreja, datadas de Séc. II[4][5].

 

                                  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Num estudo recente, levado a cabo por nós, relativo ao Aqueduto da Quinta do Perdigão, estando integradoS na equipa dois arqueólogos, foi realizada uma pesquisa sobre a história da zona para apurar a possível datação da construção do mesmo aqueduto visto este ter enormes semelhanças com a construção de aquedutos romanos, foi efetuado um trabalho de campo na prospeção de indícios romanos nas imediações, tendo sido verificada a existência de um vasto número de vestígios romanos no solo do atual cemitério da Igreja S. Lourenço dos Francos, nomeadamente: (anexo2):

  • Cerâmica utilitária;
  • Telha;
  • Telhão;
  • Escória de ferro.

 

Espólio este que, claramente, se pode atribuir a datações de ocupação romana.

Em suma verificamos uma panóplia de dados que nos leva a afirmar que é imprescindível um acompanhamento técnico especializado na área de arqueologia de forma a garantir a verificação científica da existência de espólio romano, Cartaginese ou outros. Esses eventuais achados não podem ser ignorados e/ou negligenciados como muito provavelmente pode ter acontecido em 1991 quando foi construído o parque de estacionamento e cruzeiro. Podendo verificar-se dados e factos sobre a história da Lourinhã em época romana ou anterior, história essa que é parca e muito reduzida a informação existente.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

[1]PERDIGÃO, 1992, Fr. Henrique, Subsídios para a História da Ribeira dos Palheiros, edição do autor, Braga, p. 128.

[2]CIPRIANO,2001, Rui Marques, Vamos falar da Lourinhã, Câmara Municipal da Lourinhã, Lourinhã, p. 227.

[3]LUÍS, Maria dos Anjos, 2014, Vivências Religiosas e comportamentos sociais, Câmara Municipal da Llourinhã, Lourinhã, pps. 20,21.

[4]MOREIRA, José Beleza (1976) - Duas inscrições funerárias romanas na Igreja de S. Lourenço dos Francos. In Conimbriga. Coimbra. 15, p. 127131.

[5]arqueologia.patrimoniocultural.pt/?sid=sitios.resultados&subsid=51616

[6]PEREIRA, Mário Baptista, 1987, Lourinhã Memórias da sua região, Câmara Municipal da Lourinhã, Lourinhã, p. 111

[7]CIPRIANO, Rui Marques, op.cit, p. 226

[8] PERDIGÃO, Fr. Henrique, op. cit. p. 67

[9] PERDIGÃO,Fr. Henrique, op. cit., p. 69

CEHL/NABUC

João Manuel Figueiredo